segunda-feira, 29 de junho de 2009

Poema de Dydha Lyra

Dydha Lyra

Invasão

Invadiram-me sem cerimônia
aqueles olhos verdes
tristes e irrequietos...
que juro
nunca ter sentido num olhar
tanta doçura,
desejo
e afeto!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sonetos de Antonio Marinho do Nascimento

Poeta Antonio Marinho do Nascimento
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Amor de estações

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Chegaste como flor na primavera

Perfumando meu verso e minha vida

Era o início de uma nova era

Branca e singela como a margarida

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Veio o verão e o sol forte que era

Deixou nossa paixão mais aquecida

Eu dizia: Meu Deus que bom, quem dera

Que esse amor não tivesse despedida

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O outono, porém, veio a chegar

E nossas folhas ele ousou murchar

Faltou adubo para os corações

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E o inverno chegando em brisas calmas

Foi congelando aos poucos nossas almas

E o amor só durou quatro estações.

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Ao Duque
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Um recado a Osório Duque Estrada
Pois o hino da pátria está erraddo
Nosso povo não tem mais o seu brado
E a luz do seu sol foi ofuscada
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A justiça sem clava é fracassada
Nosso povo está desencorajado
Foge à luta envergonnha o seu passado
Nossos bosques de vida não tem nada
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Só se vê na nação hipocrisia
Injustiça nós vemos todo dia
Se olharmos em volta este Brasil
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Mesmo assim ainda amo a minha terra
Grito forte em planície, monte e serra
Que és amada entre outras terras mil.

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Antonio Marinho do Nascimento é natural de São José do Egito, Pernambuco, terra da poesia. Descende de uma forte linhagem poética: filho de Zeto e Bia Marinho, neto de Lourival Batista, bisneto de Antonio Marinho, sobrinho de Otacílio e Dimas Batista, e de Graça Nascimento e Job Patriota, alguns dos maiores repentistas brasileiros. Quem poderia ter sangue mais nobre? Aos dezesseis anos (2003) lançou seu primeiro livro - Nascimento - do qual extraímos estes sonetos. A foto acima está na capa do livro citado.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Poema de Adélia Prado


AMOR NO ÉTER

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Adélia Prado
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Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.

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Adélia Luzia Prado Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935). Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis".