domingo, 23 de agosto de 2009

Poemas de João José de Melo Franco

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Café com meu pai
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Debaixo de um pé de café
sepultei o corpo de meu pai,
com o rosto voltado para as ramas,
de modo que seus olhos
seguissem sempre num horizonte verde,
e as narinas, um cheiro doce,
capaz de matar sua sede.
Também para que tivesse sombra nos dias de sol
e muitos companheiros de viagem,
como ele, plantados no cafezal.
Colhe agora o que deu em vida
e o que dele ficou inútil, o corpo,
assim continua a ainda palpita.
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Agora que envelheço,
bebo café de outro jeito.
Não só para abrandar o peito,
não só para acender o pito,
mas para rever seu rosto,
um cafezal, e assim existo.

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Eros
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Nada há mais belo
do que o sono de quem ama.
Quando dorme, o amor não sonha,
não sofre, não dói.
Mas se é da terra, onde sopra a vida,
devo flechá-los e cálida ferida
florescer no corpo e revolver a alma,
e despertar a dor, para que seja querida,
como o dom da vida,
que desperto em meu amor.
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João José de Melo Franco nasceu em Barretos, São Paulo, em 1956, e hoje, é morador de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. É poeta, tradutor, publicitário, cineasta e editor, e estreou, em 1979, com o livro Primeira Poesia. Depois publicou Esse Louco Desejo (1980) e Amor Perfeito (1984). Em 2006, depois de 20 anos afastado do mercado editorial, publica O Mar de Ulisses, pela Ibis Libris Editora. Citado no blog do jornalista Ricardo Noblat.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Primeiro aniversário

Zealberto: blogueiro agradecido
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Este blog completou hoje, dia 14 de agosto, um ano de existência. Neste momento, são 21,45 hs, e já contabilizamos um total de 9.155 acessos nesses 12 meses de atividades. Uma boa média para um espaço que divulga basicamente poesia de autores alagoanos, alguns não tão conhecidos ainda. Leitores de cerca de 40 países já acessaram o VersoReverso, destaque para Portugal com mais de 200 visitas.
Agradeço aos visitantes e espero continuar contando com a preferência de todos por mais alguns anos.
Um abraço.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Poemas de Pedro Cabral Filho

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A noite
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Não saia de perto de mim,
A noite não vem de longe.
Pelo contrário,
Vem de muito perto,
Depois daquela linha
Ali do horizonte.
Às vezes,
Vem com lua cheia,
Noutras,
Com lua minguante.
Às vezes, estrelada,
Por vezes, nublada,
Quantas vezes escondida
Só para te ver
Toda brilhante.
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Verde Oliva
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Ele espremeu o limão
No copo de alegria
E supôs ser aquela bebida
Um costumeiro desvario.
Tomou um chope
Ao notar
Que o limão
Se desligou docemente do ácido
E sorriu para a vida.
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Pedro Cabral Filho é arquiteto, professor universitário (UFAL), poeta, editor do blog “PoisÉ – jornaleco de opiniões e picuinhas”, onde também vem publicando capítulos do seu romance inédito "Ninho dos opífices".

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dois Poetas Inspirados

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O Rio da vida
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Nossa vida é como um rio
no declive da descida:
as águas são as saudades
de uma esperança perdida,
e a vaidade a espuma
que fica à margem da vida.
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Dimas Batista Patriota - Itapetim - PE
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A enchente dos anos
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A enchente dos anos foi chegando
Com trovões e borrascas violentas
No volume das águas pardacentas
Meu açude de sonhos foi vazando
Vi meu tempo de jovem se afogando
No remanso do poço da idade
E a pilastra da ponte da saudade
Se partiu pelo meio e me pegou
A enchente dos anos carregou
O açude da minha mocidade
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José Luiz Neto – Mossoró - RN