domingo, 26 de abril de 2009

Abstracionismo de Célia Santos





O olhar atento vai captando imagens e cores para transformá-las em telas abstratas de uma beleza inefável, onde predominam os sentimentos e as emoções através do colorido e das formas criadas livremente, fruto de pesquisas cromáticas que produzem variações espaciais e formais na pintura, através das tonalidades e dos matizes obtidos. Assim, tem sido a rotina da artista plástica Célia Santos, um dos expoentes maiores da pintura abstrata alagoana.
.
A menina nascida em Utinga Leão, na Grande Maceió, sempre viveu em ambiente multicolorido a partir dos jardins residenciais, da pracinha, do casario, da beleza da Mata Atlântica, mergulhando na exuberância do canavial que cercava o seu universo. Toda essa bagagem de luz e cores forjou a consciência pictórica da futura artista que somente desabrocharia alguns anos depois. A artista de hoje abandona a perspectiva tradicional e as formas da pintura, utilizando-se de linhas e cores para exprimir emoções.
.
Os quadros de Célia Santos ganharam o mundo, saíram do Brasil para enriquecer pinacotecas longe daqui, graças a exposições realizadas em Maceió e, especialmente, em São Paulo. Os seus trabalhos voaram para os Estados Unidos, Portugal, Itália, Chile e tantos outros países, elevando o nome da artista alagoana. Realizar uma exposição hoje seria difícil, pois seus trabalhos são muito requisitados por arquitetos e decoradores.

.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Soneto de Ronaldo Cunha Lima

.
Janelas sem ninguém
.
Retorno, à mesma rua, o meu desejo
de me encontrar comigo e estar contente.
Mas a rua mudou. Bem diferente
é a mesma rua que na noite vejo.
.
Já não há mais espera ao meu andejo,
já não há na janela, à minha frente,
as covinhas do rosto, a inocente
e eterna musa que em meus versos beijo.
.
Algumas rosas, dálias amarelas,
nas janelas abertas. Ninguém nelas.
A rua está mais triste, e eu também.
.
Pobres flores, no outono das janelas!
Nem mesmo as flores continuam belas
quando enfeitam janelas sem ninguém.
.

Ronaldo Cunha Lima, advogado, poeta e político, nasceu em Guarabira, Paraíba, no dia18 de março de 1936. É membro da Academia Campinense de Letras e possui várias obras publicadas, o soneto acima está no livro “As flores na janela sem ninguém...” (José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 2007).

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Sonetos de Christiano Fernandes

.
.
Certas rosas e cavalos de outonos
.
Cuidemos de inventar na primavera
cavalos que hão de vir por nosso outono
pastar os verdes campos de silêncio
velados pelas nossas rugas claras.
.
Que sejam mansos os cavalos, tanto
quanto o silêncio for maior e calmo.
E que esses campos sejam verdes como
possa o outono ser resignado.
.
Que outros cavalos hão de vir, por certo,
com rudes cascos atiçar a terra
que à paz do outono fez apascentada

- porquanto será inútil, então, querer-se
inventar certas rosas nesses campos
posto que a primavera é já passado.
.
.
Das mãos e das rosas
.
Desfez-se a busca. Minhas mãos cansadas
do grande vôo que pressentia eterno
se recolheram em si tranqüilas para
o sono conjugal da rosa rubra.
.
Um leito imaculado se inaugura
em cada palma dessas mãos aladas
onde repousam pétalas ardentes
também nutridas de ausência e espera.
.
Das asas extenuadas de meus dedos
debruçam-se ternuras sobre as pétalas
que solitários ventos machucaram.
.
E há corações pulsando em melodia
nas minhas mãos e em todo o rubro ardente
da rosa umedecida e reintegrada.
.
Christiano Nunes Fernandes (1931-1998), amazonense, chegou a Maceió ainda criança, onde viveu, amou, constituiu família e escreveu sonetos e poemas que marcaram época. Os sonetos acima foram extraídos do livro “Da Rosa Definitiva”, prêmio Gustavo Paiva, conferido pela Academia Alagoana de Letras.