domingo, 30 de setembro de 2012

Poetas alagoanos quase esquecidos (12)


Emílio de Maya
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Pétalas Esparsas
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Emílio de Maya
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Se amas alguém que é teu enlevo e encanto,
Vida e alegria do teu coração,
Zela por esse teu afeto quanto
Pela tua puríssima emoção.
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Não consintas jamais que ele se iguale
Às afeições comuns da humanidade.
Guarda bem na memória: o amor só vale
Quando é um produto da sinceridade.
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Sempre que é puro todo afeto é um bem
E o segredo do amor em si resume:
Pouco valor teria a flor também
Se não fosse a pureza do perfume.
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Tarde de Inverno
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Emílio de Maya
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Tarde tristonha, enevoada e fria.
Não vejo o sol brilhante declinando,
Somente as águas que, da serrania,
Turvas, velozes descem murmurando.
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Que tarde triste! Assim ouvindo rente,
Passando a correnteza a soluçar,
Meu coração entristecido sente
Uma vontade imensa de chorar...
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A terra inteira se lastima agora,
Vendo-me só e vendo só tristeza
Eu soluço também. E quem não chora,
Vendo chorando toda a natureza?
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Se há de ser triste o meu entardecer,
Como esta tarde de prazer despida;
Oh Deus do céu! Não quero mais viver.
- Levai-me logo na manhã da vida.
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EMÍLIO ELISEU DE MAYA (1906-1939) jornalista, advogado e político, nasceu no Engenho Patrocínio, filho do casal Alfredo de Maya e Maria Regina Clarc Accioly de Maya. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 13 de março de 1939. Como deputado federal defendeu a independência econômica do Brasil, publicando em 1938 o livro “O Brasil e o Drama do Petróleo” (Editora José Olympio - Rio de Janeiro – RJ). É patrono da Cadeira nº 11, da Academia Maceioense de Letras, a qual tenho a honra de ocupar.
Por ocasião da passagem dos 60 anos do falecimento do poeta seus familiares promoveram a publicação do livro “Pétalas Esparsas”, reunindo grande parte de sua obra. Os poemas acima foram retirados do livro citado.Descrição: hospedagem de sites windows

sábado, 29 de setembro de 2012

Poemas de Rosiane Rodrigues

Rosiane Rodrigues
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Despertar
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banho de luz
faz sorrir
a noite
entediada
uma sombra
cobre o rosto
taciturno
da madrugada.
raio de sol
veste a manhã
de alegria
iluminada.
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Razões
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quais as razões de amar
na exatidão da dor?
eis que o amante padece
a pena de se doar!
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versos a desabrochar
em flor o coração
a pulsar silente
a paixão dolente
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desesperado ser
à procura de ter
do amor, amargo fel
sorvido, feito mel.
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Fuga
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vaga fumaça
se dispersa
e foge de ti
como nuvem
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fere teu corpo
despe tua alma
se esvai no tempo
e te devora.

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(Poemas extraídos do mais recente livro de Rosiane Rodrigues, intitulado “ Vestido de Neblina”. Editora Catavento, Maceió – Alagoas, 2012)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Improviso de Dimas Batista Patriota

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(Improviso no estilo Galope à beira mar)
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Eu muito admiro o poeta da praça,
que passa dois anos fazendo um soneto,
depois de três meses acaba um quarteto,
com todo esse tempo inda fica sem graça.
Com tinta e papel o esboço ele traça,
contando nos dedos pra metrificar,
que noites de sono ele perde a estudar,
pra no fim mostrar tão minguado produto,
pois desses eu faço dois, três, num minuto,
cantando galope na beira do mar. 
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(Dimas Batistsa é um dos três irmãos nascidos em São José do Egito (PE) que encantaram o Brasil com seus repentes espetaculares. Os outros dois eram Lourival e Otacílio)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Poetas alagoanos quase esquecidos (11)

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Antônio Preto
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Geraldino Brasil
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Nestes sonetos vos lembrar eu venho,
um dos heróis anônimos do norte.
O Antônio Preto que sorria à morte.
O Antônio Preto, domador do engenho.
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Domava potros... E na mente o tenho,
domando um potro impetuoso e forte.
Empolgante espetáculo, de sorte
que o prometer narrá-lo, é duro emnpenho.
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Montou. Como, eu não. E os seres broncos
em valas, tocos, entre espnho e troncos,
no descampado e após na capoeira...
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Horas inteiras cavaleiro e potro.
Um procurando dominar o outro,
ficaram entre nuvens de poeira...
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I I
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No engenho, aos dois, ninguém ficou alheio.
Homens e mulheres, velhos e crianças
e até minha mamãe compondo as tranças
que lhe caíam pelo casto seio,
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ao varandão da casa grande veio
e se agitaram as ovelhas mansas
e se agitaram porcos, gordas panças
roçando o chão da confusão em meio.
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Nenhum queria dar-se por vencido.
Mas quando à tarde, pássaro ferido,
o sol surgia ensanguentando a serra...
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Eu vi o potro manso e dominado...
E Antônio nesse, assim, olhado,
como se fosse o deus da minha terra.
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Geraldino Brasil (1926 - 1996), pseudônimo do poeta Geraldo Lopes Ferreira, nasceu no engenho Boa Alegria, município de Atalaia (AL). Procurador Federal do Trabalho mudou-se para a cidade de Recife(PE) em 1951, onde residiu até o final de sua vida. Era casada com a poetisa alagoana Creusa Chaves. Publicou vários livros e teve seu falor reconhecido também fora do Brasil (Colômbia, Argentina e Venezuela) onde influenciou gerações de poetas. Ao concluir o soneto "Antônio Preto", segundo confidenciou ao seu amigo também poeta, Cláudio Antônio Jucá Santos, sentiu a necessidade de fazer um outro, complementando a narrativa do fato. E aí estão as duas joias, segundo a memória fabulosa de Jucá Santos, presidente da Academia Maceioense de Letras.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Poetas alagoanos quase esquecidos (10)



Dimensão dos sonhos
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Mendonça Júnior
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Antônio toma o teu veleiro e sai
sem rumo certo, para o mais além,
antes que o vento pare e a tarde acabe.
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Chega sempre mais longe quem não sabe
nem deseja saber aonde vai,
o que nenhum itinerário tem.
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Persegue o amanhã, o mais distante,
velas abertas, quilhas sobre os mares
e, por muito mais longe que chegares.
tenta sempre ir um pouco mais adiante.
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Solta os olhos andejos e tristonhos
no fugitivo azul do mais além,
o mar é grande, mas o mar não tem
a imensurável dimensão dos sonhos.
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Madrigal
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Mendonça Júnior
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Amo-te o corpo de mulher madura,
feito para as delícias do pecado,
de uma beleza tão serena e pura
que se diria em mármore talhado.
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Amo-te os olhos cheios de ternura,
cheios de desencanto resignado
de quem remove escombros à procura
de restaurar um deus despedaçado.
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Amo-te as mãos macias e pequenas
que a duas rosas se comparariam
se pudessem as rosas ser morenas.
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Amo-te a voz de aveludados tons,
de tons maviosos que me acariciam
como beijos puríssimos de sons.
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(*) Antônio Saturnino de Mendonça Júnior nasceu no Engenho Maranhão, Matriz de Camaragibe (AL), em 08 de março de 1908. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 24 de outubro de 1985. Poeta, jornalista, professor, juiz, advogado e deputado federal. Desempenhou outras funções públicas e deixou vários livros publicados. Foi presidente da Academia Alagoana de Letras. Era pai do jornalista, advogado, escritor, deputado estadual e federal por vários mandatos, Antônio Saturnino de Mendonça Neto, falecido aos 65 anos,  no dia 10 de novembro de 2010.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Maria Helena Veiga idealizadora do Espaço Ciranda da Cultura
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                    Ciranda de Cultura e Desenvolvimento Social 

Sempre chamou a minha atenção algumas postagens no Facebook falando de um projeto de Ciranda Cultural, surgido em Paulo Jacinto. Resolvi matar minha curiosidade, por se tratar de algo inusitado em minha terra, enviando mensagem via e-mail, dirigida a quem me parecia ser a sua coordenadora: Maria Helena Uchoa Veiga.
Recebi informações sobre o projeto que já havia sido posto em prática por ela, com o apoio de alguns abnegados colaboradores. O que parecia ser uma brincadeira, um sonho, hoje já existe com personalidade jurídica, através do registro do seu estatuto em Cartório e agora é realidade.
Maria Helena, Assistente Social, casada, com dois filhos, descende de uma das famílias fundadoras do município, os Veiga. Ela viveu algum tempo entre Olinda e Paulista (PE) e de lá trouxe o ritmo da ciranda, cantada e dançada geralmente na área litorânea, para a Zona da Mata alagoana. Não chegou apenas a dança e o seu canto dolente, mas desejo de realizar um projeto social mais amplo para assistir de alguma maneira a juventude, tão sem alternativas culturais de sua terra.
Indagada sobre as propostas do projeto, respondeu Maria Helena: “O Espaço Ciranda de Cultura e Desenvolvimento Social – ECCDS tem como proposta principal o trabalho focado nas crianças e adolescentes paulojacintenses, podendo suas atividades serem estendidas, futuramente, para outros públicos. O primeiro projeto a ser desenvolvido será um curso de formação cidadã, intitulado “Cirandeiros” que é voltado para a formação de mobilizadores juvenis, com o objetivo de capacitar os participantes para se tornarem membros do ECCDS, e elementos multiplicadores junto a comunidade, na qualidade de parceiros do Ciranda, participando ativamente do planejamento e execução dos projetos elaborados. Destaco que nossa proposta é a prevenção, cuja principal meta é preencher o tempo ocioso dos jovens com atividades culturais e lazer de qualidade, evitando que eles se envolvam com drogas e atos infracionais. Os projetos seguirão com o desenvolvimento de atividades de arte e cultura como dança, teatro, leitura, comunicação social e música. Nossa grande dificuldade está na falta de um espaço próprio, por ausência de recursos e de  qualquer tipo de apoio financeiro”.
Sem vinculações políticas, a Ciranda de Cultura e Desenvolvimento Social, de Paulo Jacinto (AL), carece da ajuda de sua gente para integração e valorização da juventude, esperando contar com o apoio dos empresários e das entidades que tenham condições de colaborar com esta causa nobre. Como diz Maria Helena Veiga: “Precisamos acreditar na nossa juventude, no potencial que nós temos, na nossa criatividade, no nosso grito, no nosso ritmo. Sozinhos, somos capazes de realizar sonhos, mas juntos somos capazes de abraçar o mundo!”
Vida longa ao Espaço Ciranda de Cultura e Desenvolvimento Social – ECCDS, de Paulo Jacinto e que o entusiasmo do grupo não arrefeça ante as dificuldades que certamente surgirão ao longo do caminho.