sábado, 31 de janeiro de 2009

Cidinha Madeiro homenageia Kislanov

Cidinha Madeiro
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Na tela prateada da ilusão
Na realidade onde está você?
Em que cidade você mora?
Em que paisagem, em que país?
Me diz em que lugar, cadê você? Você se lembra? ...
E se perder no labirinto
De outra história
A caravana do deserto
Atravessou meu coração
E eu fui chorando por você
Até os sete mares do sertão
Você se lembra... ?
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Cidinha Madeiro (Maria Aparecida Madeiro), reumatologista, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia/Alagoas, com residência e clínica em Arapiraca (AL), escolheu trecho de bela música de Geraldo Azevedo, para homenagear à memória de seu amigo-irmão jornalista Carlos Zigmund Kislanov (Zig), falecido no Rio de Janeiro, em junho de 2008.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poesia de Lêdo Ivo

Lêdo Ivo
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Soneto Puro
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Fique o amor onde está; seu movimento
nas equações marítimas se inspire
para que, feito o mar, não se retire
de verdes áreas de seu vão lamento.

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Seja o amor como a vaga ao vago intento
de ser colhida em mãos; nela se mire
e, fiel ao seu fulcro, não admire
as enganosas rotações do vento.
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Como o centro de tudo, não se afaste
da razão de si mesmo, e se contente
em luzir para o lume que o ensolara.
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Seja o amor como o tempo – não se gaste
e, se gasto, renasça, noite clara
que acolhe a treva, e é clara novamente.
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Acontecimento do Soneto
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A doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros.
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versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

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Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,
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irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
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LÊDO IVO nasceu em Maceió (1924), advogado, jornalista, contista, romancista e poeta. Desde 1987 ocupa a Cadeira nº 10 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Rui Barbosa. Vive no Rio de Janeiro desde 1943. De sua vistíssima obra destaco: Ninho de Cobras, A Noite Misteriosa, As Alianças, A Ética da Aventura ou Confissões de um Poeta.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Edécio Lopes, uma saudade

Edécio Lopes
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“Quero que você lembre de mim
como algo muito seu...”
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O pedido de Edécio Lopes, através de uma de suas mais belas músicas, será sempre atendido pelo povo alagoano que, nas últimas décadas, sempre começava o dia ouvindo o programa “Manhãs Brasileiras” e a sua voz característica, em defesa dos reais valores desta terra. Ele jamais será esquecido seja pela falta que fará ao rádio alagoano, seja pela saudade imensa encravada no coração dos seus amigos e fãs, seja pelas suas músicas maravilhosas.
Há alguns anos, ao ser homenageado pela Assembléia Legislativa, disse com muita propriedade: “Senhores deputados, ilustres convidados, eu amo perdidamente esta terra. E por isso, modéstia a parte, eu mereço este título de cidadão honorário do Estado de Alagoas”. E poucos souberam honrar esse título honorífico tanto quanto ele.
Edécio Lopes Vasconcelos faleceu na madrugada desta quarta-feira, dia 21, aos 75 anos, depois de permanecer em coma por cinco meses, em decorrência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que o vitimou no dia 13 de agosto de 2008. Com mais de 50 anos de atividades radiofônicas, Edécio era poeta, compositor e deixou três livros publicados: "Vaias & Aplausos" (1984), "A Guisa de Oração" e "Entardecendo" (2008).
Nasceu em Apoti (Glória do Goitá - PE), chegou a Maceió no dia 13 de setembro de 1957, para trabalhar na antiga Rádio Progresso de Alagoas, emissora dos Diários Associados.
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Maria trago-te flores,
do jardim da própria vida.
Com a expressão definida
do maior dos meus amores
são lindas, em suas cores!
De uma cândida pureza
na esplendorosa beleza
dos lírios, cravos e rosas!
De essências olorosas.
Caprichos da natureza!
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Edécio Lopes, poema “Maria trago-te flores...”, do livro “Entardecendo” (Gráfica Graciliano Ramos, Maceió-AL/2008).

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Poesia de Vera Romariz

Vera Romariz
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Sorriso Interino
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Seguro com dedos de casca de ovo
O sorriso interino
Só eu lhe adivinho a vida deslizante
Atrás das cascas (nuvens?)
Que o protegem do tempo das lágrimas
Golpes múltiplos lhe podem quebrar o dorso
Estourando com mãos inábeis
O tempo de gemas
Raras
Escondidas
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Seguro com dedos de casca de ovo
O sorriso interino
Difícil recompô-lo depois de golpes
Fracionado
Em fluidos fragmentos
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Sorriso interino
Belo pois que breve
Frágil pois que leve
Sorrimos tontos de prazeres
Adiados
Dando boas-vindas à itinerante
Alegria.
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VERA ROMARIZ nasceu em Maceió. É Doutora em Letras, professora e pesquisadora, neta do poeta penedense Sabino Romariz (1873-1913). Livros publicados: Quase Pássaro (1986), Campo Minado (1986), Amor aos Cinqüenta (2004) e Película (2008).

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Conselhos de Pedro Macedo

Depois de ler os meus Lamentos da Tercdeira Idade, publicado na coluna da direita, deste Blog, o economista, administrador de empresas, radialista e editor do site Jornal Cultural, Pedro Macedo, mandou-me uns conselhos que vão aqui publicados, mesmo contra sua vontade:
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Se conselho fosse bom em qualquer situação
ninguém daria de graças queria compensação,
mas, diante do teu lamento te passo esta lição
para que se endividar, comprando enganação,
ninguém volta à mocidade, errada interpretação.
Desiste meu caro amigo desta tua ilusão
precisas te contentar com a tua inspiração
se na saúde estás fraco, na prosa és campeão.
Que mais queres da vida tem do povo admiração,
sem precisar comprar nada, sem assumir prestação.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Poesia de Wilson Lucena Maranhão

Wilson Lucena Maranhão
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Escárnio
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Igualmente a flor que desabrocha em vão
E depois se curva para beijar o chão...
Eu vim ao mundo!...
Vim, vi e admirei essa monstruosidade,
Na esperança de um dia encontrar a felicidade...
Erro profundo!
Feliz o homem que do materno corpo
Foi vômito, foi carniça, foi aborto.
Oh! Deus que estais no céu, puro e misericordioso
Perdoai-me se sou um criminoso.
Por ti eu juro!
Se antes de eu nascer, a mim houvesse dado
Deste mundo o retrato, o significado...
Eu te asseguro!
Só a mim cabia a culpa de ser morto
Por praticar o crime de meu próprio aborto.
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WILSON LUCENA MARANHÃO (1921-1994) nasceu em Viçosa - AL e passou a infância e adolescência entre as cidades de Quebrangulo e Palmeira dos Índios (AL). Filho do Coronel PM Lucena Maranhão, comandante da luta contra o cangaceiro Lampião e seu bando e, anos depois, prefeito de Maceió. Wilson Lucena, Funcionário Público Federal, foi agente do Loyde Brasileiro e superintendente do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Deixou muitos poemas inéditos que serão transformados em livro por iniciativa dos filhos e netos. O poema acima foi transcrito do livro "Por-do-Sol", publicado por sua viúva, Míriam Tenório Lucena, em 2007.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Poemas de Emílio de Maya

Emilio Eliseu de Maya
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Pétalas Esparsas
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Se amas alguém que é teu enlevo e encanto,

Vida e alegria do teu coração,
Zela por esse teu afeto quanto
Pela tua puríssima emoção.
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Não consintas jamais que ele se iguale
Às afeições comuns da humanidade.
Guarda bem na memória: o amor só vale
Quando é um produto da sinceridade.
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Sempre que é puro todo afeto é um bem
E o segredo do amor em si resume:
Pouco valor teria a flor também
Se não fosse a pureza do perfume.
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Tarde de Inverno
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.Tarde tristonha, enevoada e fria.
Não vejo o sol brilhante declinando,
Somente as águas que, da serrania,
Turvas, velozes descem murmurando.
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Que tarde triste! Assim ouvindo rente,

Passando a correnteza a soluçar,
Meu coração entristecido sente
Uma vontade imensa de chorar...
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A terra inteira se lastima agora,

Vendo-me só e vendo só tristeza
Eu soluço também. E quem não chora,
Vendo chorando toda a natureza?
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Se há de ser triste o meu entardecer,

Como esta tarde de prazer despida;
Oh Deus do céu! Não quero mais viver.
- Levai-me logo na manhã da vida.
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EMÍLIO ELISEU DE MAYA (1906-1939) jornalista, advogado e político, nasceu no Engenho Patrocínio, filho do casal Alfredo de Maya e Maria Regina Clarc Accioly de Maya. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 13 de março de 1939. Como deputado federal defendeu a independência econômica do Brasil, publicando em 1938 o livro “O Brasil e o Drama do Petróleo” (Editora José Olympio - Rio de Janeiro – RJ). É patrono da Cadeira nº 11, da Academia Maceioense de Letras. Por ocasião da passagem dos 60 anos do falecimento do poeta seus familiares promoveram a publicação do livro “Pétalas Esparsas”, reunindo grande parte de sua obra. Os poemas acima foram retirados do livro citado.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Míriam Tenório Lucena

Míriam Ferreira Tenório Lucena
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Meu fiel companheiro
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Tantos anos dormindo juntos,
dividindo o mesmo leito,
minha cabeça em teu colo repousando,
macio e levemente perfumado.
A ti contei os meus segredos,
minhas ilusões e desilusões.
A ti contei toda minha vida.
Um dia eu te falei
de um grande amor do meu passado,
um amor puro e inocente
entre jovens adolescentes,
que alguém ou o destino
resolveu para sempre separar,
transformando nossas vidas
em linhas paralelas.
Nesta noite chorei muito.
Esta cena por muitos anos se repetia
e tu, sempre solícito,
enxugavas minhas lágrimas
com sua leve e suave carícia.
Hoje eu te pego nos braços,
aperto-te contra meu peito
e contrita eu te peço perdão
por nunca ter compreendido
que, durante toda minha existência,
foste meu fiel companheiro,
presente e sempre constante,
nos momentos e aflições.
Hoje volto a chorar novamente
e desta vez copiosamente.
São para ti estas lágrimas,
meu bom e fiel companheiro,
meu adorado, meu querido, travesseiro.
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(20.05.2004)
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Míriam Ferreira Tenório Lucena nasceu na casa grande da Usina Ouricuri, em Atalaia – AL, em janeiro de 1933, onde foi menia traquina que vivia correndo pelas campinas, caçando, pescando nos rios e açudes em companhia dos irmãos, vendo o nascer e o pôr-do-sol, admirando as estrelas e a luminosidade da lua. Aos 34 anos descobriu o seu lado poético ao escrever o poema "Ser Velho", ao ser desafiada por um tio. Viúva, quatro filhos e nove netos, em 2007 lançou “O Pôr-do-Sol", seu primeiro livro de poemas, pela Editora Catavento (Maceió-AL). Outros livros poderão surgir, material é que não falta. No final do livro ela homenageou o falecido marido Wilson Lucena Maranhão, transcrevendo alguns dos seus poemas.