quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Espera sob teto urgente
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Cavalcanti Barros
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Fios de chuva,

cortina de cristais líquidos.
Composição cúmpliceda espera improvisada.
Biqueira antigafoi teto urgentepara ver passagem
da tua passagem.
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Passaram por mim os felizes:

os mendigos,
os ébrios,
os cães sem dono,
e os sem lar
(os sem patrimônio sentimental).
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Até a chuva passou, de leve,

indiferente.
De sob meu teto urgente,
só não vi passara tua passagem.
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Publicado no blog Movimento da Palavra (movimentodapalavra.blogspot.com)
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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre os poetas

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Às vezes, as palavras queimam. Abrem lumes de prata na negrura da impossibilidade de as dizer. São lua que se derrete no mar. Luz. Música.
Silêncio líquido.
Nasce, então, a poesia: poeira lírica do céu que a mão frágil do poeta semeia.
Ousadia, talvez.
O poeta tem palavras enredadas nos dedos: rosários de amores e desencantos, de medos e de esperanças. Com elas, adoça a vida, escreve o mundo e partilha imagens como quem conta um segredo.
O poeta tem beijos na voz. E desenha com eles mapas de sentidos num tempo que não conta. Azul. Divinamente azul. Tecidos com fios de luz, bordados com o arrepio que o vento acende nas paredes dos olhos.
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"Sobre os poetas", Graça Alves, publicado no “Jornal da Madeira”, edição de 16/11/2010, Funchal.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Estamos no caminho certo

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Poetas querem mais poesia na internet

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A internet atrai cada vez mais escritores e leitores de poesia, mas a poesia vista na rede ainda mantém os moldes tradicionais de verso e estrofe. Esse foi o tom do segundo Simpósio de Crítica de Poesia, organizado pelo Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília, que atraiu jornalistas, professores, pesquisadores e poetas. Eles discutiram as inúmeras possibilidades de fazer poesia diante das tecnologias de mídia do século XXI. O simpósio fez parte da Semana Universitária e contou com a presença dos poetas Nicolas Behr e Luís Turiba.

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Fonte: http://www.planetauniversitario.com/

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Poetas alagoanos quase esquecidos (5)

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O Lírio
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Sabino Romariz (*)
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O lírio era uma flor imaculada,
Casta como um sorriso de Maria;
Flor de uma alvura tal que parecia
Ter sido feita de hóstia consagrada.
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Em Getsemâni, a face ensanguentada
Jesus tragava o cálix da agonia
e uma gota de sangue luzidia
Sobre um lírio caiu cristalizada.
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E nisto flor, sem mancha concebida,
foi-se tornando como que dorida
Tomando aquele tom violáceo, frouxo...
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E de como era outrora alvinitente
O lírio da Judeia, finalmente
Crepuscular ficou, tornou-se roxo.
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(*) Sabino Romariz (o velho) poeta, jornalista, professor e funcionário público, nasceu em Penedo (AL) em 15 de março de 1873 e faleceu na mesma cidade em 09 de maio de 1913. Do seu registro bibliográfico constam os livros Lama Sebacthani, Simoun, Toque d’Alva, Bibliário e Madalena, todos de poesia. É Patrono da Cadeira n. 15 da Academia Alagoana de Letras.

Poetas alagoanos quase esquecidos (4)

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Ilusão
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Tito de Barros
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Vivo de uma ilusão que me suplanta,
E o meu sentir ao mundo denuncia,
Pela sinceridade com que canta,
Buscando as portas de ouro da harmonia...
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Há, no seu todo, um resplendor de santa,
Com que meus pensamentos alumia,
E mais alto, meu canto ao céu levanta,
Na doce claridade do meu dia...
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Deus que me deste amor e sentimento,
E lira e canto, neste vau medonho,
Libertando-me ao negro sofrimento;
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Deus, cuja bondade os olhos ponho,
Não me afastes da musa o pensamento,
Não me despertes nunca deste sonho...
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Tito de Barros nasceu em Murici (AL) no dia 29 de setembro de 1878 e faleceu em 14 de junho de 1945. O soneto acima consta do livro “O poeta da Saudade – Tito de Barros – Vida e Obra”, escrito pelo poeta Diógenes Tenório Júnior (Edições Catavento, Maceió-AL, 2002).