quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Filosofia do Poeta

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Após três dias fenece
o carnaval que cultuam,
Rei Momo desaparece
mas os bobos continuam.
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O autor desta trova, o poeta Manoel Cícero do Nascimento, natural da cidade de Coqueiro Seco (Alagoas), ao final de cada carnaval costumava escrever uma trova sobre os festejos carnavalescos. Esta foi escrita na década de 60. O poeta faleceu em Maceió no ano de 1982.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Poema de Lêda Mello

Lêda Mello
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Confins de mim
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Espera um pouco.
Antes, olha nos meus olhos,
dize que me amas!
Depois, achega-te a mim,
toca-me a pele.
Sem pressa,
deixa que as tuas mãos
deslizem pelo meu corpo
e teus dedos, habilmente,
encontrem os vales
da minha sensualidade
e conheças todos os lugares
marcados pela ânsia da minha espera...
E, então, te sentirás homem e amado.
Estarei em ti
e tu estarás em mim...
O tempo marcado
pela eternidade
da nossa entrega...
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Lêda Yara Motta Mello é Terapeuta Holísitca, vive em Arapiraca, onde nasceu e mantém sua Clínica (http://ledayara.terapiaholistica.net/pages/inicial.php), ministrando cursos de Relaxamento e Meditação. Quando bate a inspiração surgem pérolas como o poema acima.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Poesia de Fernando Pessoa

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Sonho. Não sei quem sou.
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Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
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Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
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Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
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Não digas nada!
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Não digas nada!. Nem mesmo a verdade.
Há tanta suavidade em nada se dizer.
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
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Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
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Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888 em Lisboa. Em 1935, no dia 30 de novembro, no Hospital São Luís, em Lisboa, morre Fernando Pessoa. Utilizou vários heterônimos para difundir sua poesia: Alberto Caeiro, Alvaro de Campos, Bernardo Soares e Ricardo Reis. Disse Fernando Pessoa sobre estes personagens: Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é, aliás, como se deve ler”.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Poesia de Gonzaga Leão

Gonzaga Leão
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A Praça
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Não te chamo a passeio pela praça
porque a praça morreu e está cercada
de muros. Há estranhos operários
trabalhando: em lugar da pá e enxada
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usam feios fuzis e sabres sujos.
E as árvores da praça assassinada
já não podem dar flor nem dar mais fruto
nem mesmo a sombra amiga e desejada.
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Por isso não te chamo para a praça
com este céu de manhã quase noturno
e operários estranhos e fardados.
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Peço-te apenas que me dês a mão
e juntos amassemos nosso pão
que se é feito de amor não sai amargo.
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Soneto três
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Mesmo sabendo os móveis arrumados
cada coisa em seu canto em seu lugar
e podendo livremente caminhar
por toda casa: assim de olhos fechados
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sem em nenhum batente tropeçar
e degrau por degrau subir a escada
saber das portas todas e de cada
janela e da sala de jantar
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e mais localizar mesa e cadeiras
onde fica exatamente a cristaleira
onde está tudo enfim. Mas se da amada
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não sabe onde costuma adormecer
onde costuma sonhar e amanhecer
é não saber da casa. É saber nada.
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Luiz Gonzaga Leão nasceu em União dos Palmares, Alagoas, em junho de 1929. É advogado e funcionário aposentado do Banco do Brasil. Membro da Academia Alagoana de Letras.
Livros publicados: A Rosa Acontecida - Edições Caeté - Maceió (1957) Mar de Encanto - Edições Caetés – Maceió (1957), Casa Somente Canto Casa Somente Palavra – Edições Escrituras – São Paulo (1986) e Preparação da Manhã, Edições Catavento – Maceió (2005).