sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Poema de Elizete Sartori



 
ENCANTO

Pra você que nasce dentro de mim a cada dia.
 Pra você que no vazio pulsa e me traz vida.
 E me conduz a uma paixão alada,
 a se perder no universo de nós dois...  
Canto Versos,
 no encanto de já não ser tão só.


(Elizete Sartori é natural do Paraná e de coração alagoano . Descobriu nas artes uma forma de ver a vida com leveza. Agrônoma por formação resolveu plantar sonhos, regá-los com muita inspiração e colher belos poemas.  É a mais nova integrante do Movimento da Palavra).

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Poemas de Jorge Cooper



Poema

Fui o auditório de meu pai
Dele ouvi coisas
com que a vida teci
Ele  me ensinou a não saber
precipitar amizades
A não viver dentro do círculo de giz
A inverter a ilusão
e a querer bem à humanidade
Sorver o sal e o mel do acaso
Não me procurar esperar-me

- E ainda há quem diga por aí
ser um zero à esquerda do nada
a vida por mim levada

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Poema 10

Um pai
é  para o filho
como um ponto no teatro

Às vezes o ponto
não é pelo ator
ouvido
- E o improviso dá em fiasco

        <>

Poema 14

Eu sou
nos meus poemas
Eles têm o número exato
de palavras e
o tamanho em que
a inspiração se coube
- Eles são como a clara e a gema
no ovo

(Precisamente assim
como eu caibo em mim)

 
Jorge Cooper (1911-1991) nasceu em Maceió. Viveu no Rio de Janeiro e em São Luiz (MA). Retornou definitivamente à Maceió em 1982, quando conviveu com a nova geração de poetas alagoanos. Em 2010, foi publicada a antologia "Jorge Cooper - Poesia Completa", com prefácio do poeta Fernando Fiúza e um trabalho biográfico, contendo fotos das várias fases da vida do biografado, assinado por Charles Cooper, filho do poeta, intitulado "Jorge Cooper - Vida & Verso". Além disso, compõem o livro textos assinados por amigos do vate, como Lêdo Ivo, Wanderley de Gusmão, José Paulo Paes, Dirceu Lindoso, Marcos de Farias Costa e, ainda, a transcrição de entrevista de Jorge Cooper, por Ricardo Oiticica. JC faleceu em 28 de abril 1991.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Dois sonetos de João Pinheiro de Andrade Lyra



Elegia da Condenação

Morto é meu ser, e morto de tão triste,
não passa de infeliz, choroso traste,
porque da minha vida tu partiste
desta vida que outrora me alegraste!

Embora vivo estando, já morri,
pois eu não sei que morte mais exista
do que o suplício de viver sem ti!
Meus olhos inda veem, mas a vista

nada mais acha, nada que me agrade,
depois que para longe a claridade
se foi por ti levada; meus ouvidos

não deixaram de ouvir, mas não te esquecem
a voz amada e doce; e assim padecem,
condenados comigo, os meus sentidos!

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Elegia da Luz no Mar Profundo

Quando, às vezes, me solto do inimigo,
livrando-me de todo o humano orgulho,
dentro de mim, na solidão, mergulho
nas trevas que carrego aqui comigo;

e desço, e me aprofundo, e então me invade
um desejo que abrasa, transluze-me,
atingindo depressa a terra firme,
qual, no escuro, seria a claridade.

Mais longa a negativa vertical
se faz, precipitando-me... e, afinal,
um débil lume reconfortador

eu vejo, e logo cresce e se avoluma,
- maior que ele não sei de luz alguma
a lembrança estelar do teu amor!

João Pinheiro de Andrade Lyra (03/11/1912 - 05/10/1955) filho de Carlos Lyra Filho e Líbia de Andrade Lyra,  nasceu em Timbaúba (PE). Estudou na Suíça e nos Estados Unidos. O pai era dono do jornal Diário de Pernambuco, onde ele publicou vários vários sonetos e haicais. Fixou residência em São José da Lage (AL), onde casou e constituiu família. Publicou, em 1951, o livro "Essências do Brasil em Jarros do Japão", editado e ilustrado por ele, contendo uma coleção de seus haicais, que foi reeditado em 2012, quando do centenário do seu nascimento, por iniciativa de seus filhos.
            

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Soneto de Ariano Suassuna



Aqui morava um rei


Aqui morava um quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibão,
Pedra da Sorte sobre meu Destino,
Pulsava junto ao meu, seu coração.

Para mim, o seu cantar era Divino,
Quando ao som da viola e do bordão,
Cantava com voz rouca, o Desatino,
O sangue, o riso e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem seu guia
Que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua efígie me queima. Eu sou a presa.
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de Ouro em pasto ensanguentado.

(Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade de João Pessoa, Paraíba, no dia 16 de junho de 1927, filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna e Rita de Cássia Dantas Vilar. Fez o curso primário no município de Taperoá, PB. Em 1942, a família Suassuna se transfere para o Recife e Ariano vai estudar no Ginásio Pernambucano e depois no Colégio Oswaldo Cruz. Em 1946, entrou para a Faculdade de Direito do Recife, onde conheceu um grupo de escritores, atores, poetas, romancistas e pessoas interessadas em arte e literatura, entre os quais, Hermilo Borba Filho, com o qual Ariano fundou o Teatro de Estudantes de Pernambuco. Vive em Recife até hoje. Neste soneto Ariano homenageia o pai, assassinado por rixas politicas)

Poema de Cavalcanti Barros



Pureza não é pecado

Um sonho (meu Deus), um sonho!
Um sonho ousado. Tamanho!
Que nem vou contar pra ela.

Ousei provar (que beleza!)
o sabor delicadeza
de lábios róseo-canela.

Se ela vier a saber?
Como vou me defender,
para não ser condenado?

Mas, pra que condenação?
Não foi pura a intenção?
Pureza não é pecado!

(Publicado no blog do "Movimento da Palavra")

Poema de Emanuel Galvão


Em pessoa

Revesti minha poesia
De verbetes reluzentes
Que brilhem fundo n'almas
E as iluminem inteiramente,
Mas a canção que acalma
É a mesma da dor contundente
Às vezes, métrica e rima
Às vezes, apenas repente
Às vezes, verdade e razão
Outras tantas, transcendentes
Realidades que mente
Por vezes, pura ilusão
Coração que se ressente
Mas o poeta fingidor,
Na dor que deveras sente,
Sentimento e reflexão,
Quer ser mente e coração
E aí que apenas mente.

(Do livro "Flor Atrevida" - Maceió, 2007. É membro do "Movimento da Palavra)

Poema de Lys Carvalho


Raízes

Já não sinto saudades
das raízes que aqui plantei.
Um vaivém da procura
do sobreviver...

As pessoas se atropelam.
já não reconheço o passado,
nem momentos de uma vida,
que aqui vivi...

Retorno às lembranças
sem sentir saudades...
Meu coração e minha alma
já não pertencem  a esse mundo.

(Da "Antologia Movimento da Palavra". Maceió, 2009)

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Poema de Valderez de Barros


Acalanto

Buscarei um recanto
Onde chorarei meu pranto,
Onde entoarei um canto
Triste, no entanto,
Será como um acalanto,
Que suavizará, como um manto,
O frio do meu desencanto.

(Da "Antologia Movimento da Palavra". Maceió/2009)

Poema de Maurício Macedo


Radioatividade

Pergunto.
Não há palavras novas
no silêncio de tua ausência.
E há tantas palavras a dizer ainda,
palavras que certamente dirias.

Pergunto.
No silêncio de tua ausência
as palavras ditas brilham solitárias
feito pedras radioativas.

(Maurício Macedo, médico e poeta)

domingo, 8 de setembro de 2013

Um poema de Lou Correia


Saudade bandida

De vez em quando, ela vem
camuflada, forte, covarde,
pega-me de surpresa...

Por vezes, nem mesmo sei
de quem ou do quê,
sei que sinto saudade.

À revelia da vontade,
sem aviso,
sem pedir licença,
pirracenta, ela chega
invade minha intimidade.

Feito moleca, arruaceira,
bagunça minhas emoções,
provoca-me dor e lágrimas,
deixa-me ressacado o coração,
age, feito bandida, minha saudade.

(Transcrito da "Antologia Movimento da Palavra", Maceió/2009)

sábado, 7 de setembro de 2013

Poetas alagoanos quase esquecidos (13)


Coroa de espinhos
        
           Theophanes Brandão

Na granja de minha alma apenas mora
A lágrima de sangue vegetando
E desferindo cânticos eu ando
- Um crepúsculo eterno à luz d'Aurora.

Qu'estes sorrisos pálidos agora,
São d'alvas ilusões um triste bando,
Que neste coração murcharam quando
O amor batendo as asas foi-se embora!

Vai-me fugindo um resto de conforto,
Eu já não sinto mais, quase que morto,
Trinar um' ave em meus beirais mesquinhos.

E minh'alma a bater de porta em porta
Aos corações de bem piedade exorta,
Mostrando um peito cravejado d'espinhos!


Theophanes Martins Brandão foi professor do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro e autor de belos poemas, dentre os quais se destaca o denominado Trevas e Sóis. Filho de Manoel Martins Brandão e Maria Lusia Brandão, nasceu em Porto Real do Colégio, Estado de Alagoas, no dia 27 de dezembro de 1875. Faleceu em
Penedo(AL) no ano de 1954.
(Citado no "Blog do Etevaldo" - Etevaldo Amorim)

domingo, 1 de setembro de 2013

Poema de JOSÉ ALBERTO COSTA



Vida reintentada

À noite minh'alma percorre
o infinito espaço
das lembranpas perdidas.
Enquanto durmo,
recolhe pedaços
dispersos de mim,
reinventando uma vida
de coisas esquecidas,
revolvendo escaninhos
de desejos contidos
repletos de sonhos
da adolescência
que deixei fugir.

(Da "Antologia Movimento da Palavra" - Maceió/AL, 2009) 

Poema de DYDHA LYRA


Outono

Ah, esse velho relógio,
por onde, docemente, escorrega o tempo!
Tempo de idas...
Tempo de voltas...
e nós...
...afagando nossas mãos
tão fraternas no outono!
Na minha bagagem já pus nossas vidas.
se não te avisei,
perdoa,
é que detesto despedidas!

(Da "Antologia Movimento da Palavra" - Maceió-AL, 2009)