quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ 2010

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Desejo pros meus amigos,
meus pacientes leitores,
um Ano Novo dos bons,
pertinho de seus amores,
saúde, fraternidade,
dinheiro e felicidade
bem longe dos seus credores.
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Zealberto 31.12.2009

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um poema de Iremar Marinho

Canto-chão

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Desta matéria se faz poesia.
Desta areia, desta maresia
Faz-se o plano do meu canto-chão.
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Deste charco forjado de pânico
Brotam seres palavras que são
Pura estesia de mundo botânico.
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Desta terra nascem bois alados,
Planta bovina que alimenta arados,
Nesta seara-mundos divididos.
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Nesta vala homens são sulcados.
Desta horta são frutos caídos
De suas mesas fartas de ausência.


domingo, 20 de dezembro de 2009

Uma crônica de Vera Romariz

A TRADIÇÃO FEMININA DO NATAL

Vera Romariz (*)

A tradição natalina, não necessariamente a religiosa, mas a profana, cheia de festas e ritos de encontro, é muito feminina. Até rima! Drummond já dizia que as mulheres ficam belas em dezembro. Elas sorriem para os seus, conjunto amplo de pessoas que constituem um círculo familiar e de amizades, do cafezinho, da faculdade, da ginástica, da rua, da vida plena de um movimento quase autista que as mulheres possuem.

Um Natal só com homens seria um desastre. Quem adornaria as árvores? Quem congregaria pessoas? Quem procuraria adivinhar o gosto daquele filho adolescente, sempre chato, e sempre reivindicador? Quem faria as pazes entre pai e filhos, senão a mãe, forçosa e historicamente “mais compreensiva”, em virtude da quase absoluta falta de racionalidade e de tolerância dos homens para as relações humanas? Quem reataria, com dedos fortes, o esgarçado tecido familiar com filhos separados, noras magoadas e filhos perplexos?

No comércio, ou no shopping, sorridentes, elas compram “lembrancinhas” para o marido emburrado, para o filho rebelde, para o amigo bom e para o desafeto. Porque, afinal, “é natal”, diz ela, que bem sabe que, nessa época de cores e luzes inesperadas, nós nos concedemos uma espécie de liberdade condicional da chatice do cotidiano, às voltas com a crise econômica, assunto (orgasmo?) de todo homem que se preza.

Injustamente classificadas como gastadoras, as mulheres realizam a parte afetiva de cujos resultados todo homem gosta, seja, pai, avô ou bisavô. “Coisas de Vera”, diz meu marido, ou o seu. “Coisas de mulher”, diz um machista deliciado com o peru comprado na liquidação, com a mesa posta e bonita, com o jarro habilmente escondendo o desbotado da toalha de tantos anos atrás. Porque as mulheres são protéicas formas de viver o contraditório cotidiano de nosso tempo conturbado, às voltas com uma crise radical de valores humanos.

As pessoas, em nossa cidade, na minha infância, se encontravam nas portas da rua, fugindo do calor de dezembro; divertiam-se nos terraços, nas praças, nas ruas seguras da Maceió deliciosamente provinciana dos anos 50 e 60. As grades fecharam os terraços do Farol e da Ponta Verde; os portões eletrônicos substituíram os pequenos muros de alvenaria. Pouco a pouco, a cidade se fechou em copas e as mulheres passaram a encontrar-se na rua, no café, no barzinho da esquina, escondidas do olhar mais conservador. O Farol era uma alameda de iluminadas árvores piscando em verde e vermelho. Fecharam-se as casas; derrubaram uma face bonita de Maceió, meio brega, meio verde, onde as crianças se reconheciam.

Natais ameaçados por tantos planos econômicos malucos quase nos impediram de exercitar a tão feminina ginástica de compras. Mas como na letra da Nega Juju, do Farol à Ponta Grossa, a “folia é nossa”. E nos mercados de bairro, os carrinhos toscos continuam cheios; Théo (aleluia!) pagou cedo o décimo-terceiro, habilitando-nos a uma antecipação do décimo-quarto presentinho. Coisas de homem! Deixar-nos sofrer, até o último momento, para, então, magnânimo, conceder o indulto financeiro de Natal.

Mas perdoamos todos, até os que nos chamam de lineares, superficiais, gastadeiras; porque o abuso deles precisa dessa leveza protéica que possuímos, dessa generosidade de útero que aprendemos a conservar, desse sorriso-estandarte de uma força que nos ensinaram nossas mães e avós. Coisas de mulher. Coisas da melhor tradição feminina do Natal.

(*) Vera Romariz é Doutora em Letras, professora, poeta, pesquisadora. Neta do poeta penedense Sabino Romariz (1873-1913), nasceu em Maceió, é autora dos livros Quase Pássaro (1986), Campo Minado (1986). Amor aos Cinqüenta (2004) e Película (2008).

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Homenagem a RODRIGUES DE GOUVEIA

Rodrigues de Gouveia
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A morte do meu sonho

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Rodrigues de Gouveia (*)

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A morte do meu sonho foi tão triste!
Não teve velas, nem choro, nem nada.
Tão triste como a fria madrugada
Que à luz do dia em ficar persiste.
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Foi tão cruel a morte do meu sonho!
Sonho que morreu quase sem nascer.
Esperança vã que não quis viver
Nesse mundo sem luz e tão tristonho.
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Sonhar é viver, é sentir na vida
Outra vida de sonho e de ventura,
Que zomba da mais tétrica amargura
E alegra qualquer dor, por mais sentida.
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Por isso eu sinto tanto, tanto a morte
Que o meu sonho levou tão apressada
Pois a minh’alma irá assim, cansada,
Em busca d’outro sonho que a conforte.

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(*) José Rodrigues de Gouveia, jornalista, cronista e poeta, nascido e criado nas Alagoas, faleceu na última segunda-feira (07/12) na cidade de Fortaleza (CE), aos 81 anos, onde morava. Gouveia foi mestre de várias gerações de jornalistas, especialmente daqueles que iniciaram nas décadas de 50/60. Era fundador e presidente de Honra da Academia Maceioense de Letras.


sábado, 21 de novembro de 2009

Poema de Iremar Marinho

No Mar de Cuba
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(Para Freitas Neto, jornalista alagoano solidário, morto em acidente aéreo)
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Restos do naufrágio
são rosas partidas nas ondas,
grinaldas dos afogados
no líquido túmulo
dos sonhos afogados,
da vida arrebatada.
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Que barco fantasma pode salvar
a náufraga solidariedade,
o vôo interceptado?
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Que ilha posso alcançar,
como gaivota ferida?
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Só um cachorro do mar
vela os líquidos túmulos no Caribe,
com vagidos uivos latidos.
Sou eu só.

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Iremar Marinho, natural de União dos Palmares (AL), é jornalista profissional e advogado. Autor dos blogs "Café Central" e "Bestiário Alagoano".

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Poema de José Alberto Costa

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Vida reinventada
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A noite minh'alma percorre
o infinito espaço
das lembranças perdidas.
Enquanto durmo,
recolhe pedaços
dispersos de mim,
reinventando uma vida
de coisas esquecidas,
revolvendo escaninhos
de desejos contidos
repletos de sonhos
da adolescência
que deixei fugir.

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Poema integrante do livro "Movimento da Palavra - Antologia" (Nossa Livraria Editora, 2009)


sábado, 31 de outubro de 2009

Antologia Movimento da Palavra



Noite de Autógrafos
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Os poetas José Alberto Costa, Lou Correia, Aydete Vianna, Valderez de Barros, Sandredy Marzo, Dydha Lyra, Lys Carvalho e Arlene Miranda , durante o concorrido lançamento da "Antologia Movimento da Palavra", pouco antes da sessão de autógrafos, no mesanino da Nossa Livraria Editora, dia 29 de outubro, em Maceió - AL, onde ocorreu o evento.

sábado, 24 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Poemas de Pedro César da Silva

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O amor é cego
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O meu amor
Te procura.
O teu amor
Me encontra
E me guia
Por ruas
Escuras.
E sem luz
Seguimos abraçados
E atravessamos ruas
Guiados pelo acaso.

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Sonho
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O dia pode
Até chegar
Mais cedo,
Que acordarei
mais tarde
Quando sonhar
com você.

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O poeta Pedro César da Silva é alagoano de Maceió onde vive, trabalha e escreve coisas maravilhosas como este pequeno poema: “Uma / janela/ já me é suficiente / para ver um pedaço do mundo”. Lançou o livro de poemas intitulado “Janelas”, no dia dois de outubro, no auditório do Hospital Escola Portugal Ramalho, onde trabalha. Estudou em escolas públicas, formou-se em Jornalismo e História pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Em 1994, em parceria com o amigo José da Guia Silva, publicou o livro “Absoluto obsoleto”.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Bienal de Pernambuco homenageia Rogaciano Leite

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A sétima edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco lançará nesta quinta-feira, dia oito, às 19 horas, a reedição do livro Carne e Alma, de autoria do jornalista, escritor e poeta pernambucano Rogaciano Bezerra Leite, no Centro de Convenções de Pernambuco. A filha do poeta, Helena Leite, estará presente às homenagens em memória do seu pai, falecido há 40 anos. Rogaciano morreu em 7 de outubro de 1969.
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O município de Itapetim, Agreste de Pernambuco, a 420 km do Recife, terra Natal do poeta, também homenageará o escritor com uma programação festiva de 9 a 11 de outubro, com exposição de fotografias e de objetos pessoais, além de um espetáculo teatral sobre a vida e obra do poeta. Na oportunidade será aberta a primeira etapa do Congresso de Poetas Repentistas de Itapetim. Todas as homenagens serão realizadas no Centro Cultural Rogaciano Leite, daquela cidade.
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Fonte: site PE360 Graus

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Soneto de Carlos Moliterno

Poeta Carlos Moliterno

Soneto da Viagem
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Sobre as ondas, afoito, direcionou a quilha
e abriu, venturoso, as velas do veleiro,
que longe havia, além da fantasia, a Ilha
que nele incendiava o astuto timoneiro.
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Foi que era Sol na hora da viagem,
pois o poeta, sempre irmão da claridade,
nutria-se, astuto, da luz e da miragem
com as quais teceu a sua eternidade.
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Nem tanto o inquietava a hora de chegar:
Antegozava, sim, a vertigem da viagem,
que viver também lhe era parar de navegar,
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num dia de tempestade, ou numa noite de luar.
Daí, ter avistado na ILHA uma paragem:
se o continente o entediasse.E precisasse amar !

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CARLOS MOLITERNO
poeta, jornalista, crítico literário, foi presidente da Academia Alagoana de Letras por seis mandatos consecutivos, autor dos livros Desencontro, Notas Sobre Poesia Moderna em Alagoas e do festejado A Ilha, considerado um clássico da poesia alagoana. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, autor da letra do Hino de Maceió, faleceu no dia 19 de maio de 1998, aos 86 anos.