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Café com meu pai
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Debaixo de um pé de café
sepultei o corpo de meu pai,
com o rosto voltado para as ramas,
de modo que seus olhos
seguissem sempre num horizonte verde,
e as narinas, um cheiro doce,
capaz de matar sua sede.
Também para que tivesse sombra nos dias de sol
e muitos companheiros de viagem,
como ele, plantados no cafezal.
Colhe agora o que deu em vida
e o que dele ficou inútil, o corpo,
assim continua a ainda palpita.
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Agora que envelheço,
bebo café de outro jeito.
Não só para abrandar o peito,
não só para acender o pito,
mas para rever seu rosto,
um cafezal, e assim existo.
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Eros
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Nada há mais belo
do que o sono de quem ama.
Quando dorme, o amor não sonha,
não sofre, não dói.
Mas se é da terra, onde sopra a vida,
devo flechá-los e cálida ferida
florescer no corpo e revolver a alma,
e despertar a dor, para que seja querida,
como o dom da vida,
que desperto em meu amor.
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João José de Melo Franco nasceu em Barretos, São Paulo, em 1956, e hoje, é morador de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. É poeta, tradutor, publicitário, cineasta e editor, e estreou, em 1979, com o livro Primeira Poesia. Depois publicou Esse Louco Desejo (1980) e Amor Perfeito (1984). Em 2006, depois de 20 anos afastado do mercado editorial, publica O Mar de Ulisses, pela Ibis Libris Editora. Citado no blog do jornalista Ricardo Noblat.
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