domingo, 18 de dezembro de 2011

Dois poemas de Adélia Prado

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A carne simples
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Na cama larga e fresca
um apetite de desespero no meu corpo.
Uivo entre duas mós.
Uivo o quê?
A mão de Des que me mói e me larga na treva
Na boca de barro, o barro.
Quando era jovem
Pedia cruz e ladrões para guarnecer meus flancos.
Deus era fora de mim.
Hoje peço ao homem deitado do meu lado:
me deixa encostar em você
pra ver se eu durmo.
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Roça
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No mesmo prato
o menino, o cachorro e o gato.
Come a infância do mundo.
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Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais. Dentre sua vasta obra poética destacamos: Bagagem, O coração disparado, Terra de Santa Cruz, O pelicano, A faca no peito, Poesia reunida, Oráculos de Maio. Os poemas acima estão em "O coração disparado" (Editora Record)

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