segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um poema de Arriete Vilela

............................................Arriete Vilela
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Poema 50
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Esfiapo-me assim
em palavras
para que não me ardas na pele
crestada:
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sob o sol e ao relento
tenho buscado as migalhas
de afeto com que vais marcando
o caminho – pistas que farejo
na solidão.
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também esfiapo o meu olhar
e me lanço à proa dos barcos
que atravessam a lagoa
ao entardecer: carregam no casco
despintado a rudeza dos meus afagos

sem ancoragem.
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Esfiapo-me em inutilidades
de uma poesia que se desvaira
em saudade - e transcende o que sou,
para que não se extinga no meu peito
o voo intuitivo dos vaga-lumes.
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Esfiapo-me assim
em versos
para que me celebres no anonimato
da tua vida.
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Arriete Vilela – Poeta, romancista e contista nasceu em Marechal Deodoro, Alagoas. Professora aposentada da Universidade Federal de Alagoas, onde trabalhou com a autoria feminina na Literatura Brasileira, foi eleita para a Academia Alagoana de Letras em 1996. Sua obra recebeu inúmeros prêmios, pela importância de sua obra, como o da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, em 2002.
Obras publicadas (poesia e ficção):
Eu, em versos e prosa (1970), 15 poemas de Arriete (1974), Recados (1978), Para além do avesso da corda (1980), Pequena história da meninice e outras estórias (1981), Remate (1983), Fantasia e avesso (1986), Farpa (1988), A rede do anjo (1992), Dos destroços, o resgate (1994), O ócio dos anjos ignorados (1995), Tardios afetos (1994), Vadios afetos (1999), Grande baú, a infância (2003), Frêmitos (2003), A Palavra sem Âncora (2005), Lãs ao vento (2005), Ávidas paixões, áridos amores (2007), Obra poética reunida (2009).
O poema transcrito integra o livro "Palavras em Travessia", incluído no volume "Obra poética reunida" (2009 - Gráfica Editora Poligraf - Maceió/AL).

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