domingo, 29 de maio de 2011

Poetas alagoanos quase esquecidos (8)

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Você
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Jayme de Altavila
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Você resume tudo o que sonhei na vida:
Glória, beleza, amor, domínio, perfeição.
Tudo o que persegui numa doida corrida,
Tudo que me fugiu ao alcance da mão.
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Quando vejo você, fico de alma florida,
Porque você é luz, é perfume, é ilusão.
Você é, para mim, a ideia mais querida
A quimera mais linda, a mais doce emoção.
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Você tem uma voz de canário cativo.
Você tem um sorriso encantador e um quê
De vaidade, no olhar eloquente e expressivo.
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E você, apesar de tudo isso, não vê,
Inda não compreende, ante o enlevo em que vivo,
Que o mundo, para mim, se resume em você.
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Canto Nativo
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Jayme de Altavila
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Quando eu morrer, você rasgue um pedaço deste céu
E faça dele a minha mortalha.
Quando eu morrer, você cave um torrão de terra virgem
E faça dele o meu travesseiro.
Quando eu morrer, você arranque o Cruzeiro do Sul
E faça das estrelas meus círios.

Quando eu morrer,você asperja a água verde das Lagoas
Sobre os meus restos humanos
Quando eu morrer, você corte um ramo de pitangueiras
E cruze, sobre ele, as minhas mãos.
Quando eu morrer, você plante sobre a minha sepultura
uma palmeira Ouricuri.
Quando eu morrer, você reze nos meus ouvidos
A Sinfonia do Guarani.
Quando eu morrer, você encomende a minha alma nativa
A Rudá e a Tupã.
Quando eu morrer, você diga aos que perguntarem por mim
Que eu morri como nasci:
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Brasileiro.
Brasileiro.
Brasileiro.
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Jaime de Altavila, pseudônimo de Anphilóphio de Oliveira Melo (Maceió -AL 1895-1970), formado em Direito, novelista, cronista, poeta, ensaísta, historiador. Fundador da Academia Alagoana de Letras. Foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas por 14 anos e da AAL. Obras publicadas: Crepúsculo d’ouro e sangue (1915), Da vida e do sonho (1916), Diário de todos os amantes (1928), Canto nativo (1949), Últimas poesias (1968), Gênese e desenvolvimento da literatura alagoana (1922), História da civilização das Alagoas (1935) e Origem dos Direitos dos povos (1961), entre outras.

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