terça-feira, 15 de abril de 2014

Sonetos de Jorge de Lima

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Pelo silêncio
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Pelo silêncio que a envolveu, por essa
aparente distância inatingida,
pela disposição de seus cabelos
arremessados sobre a noite escura;
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pela imobilidade que começa
a afastá-la talvez da humana vida
provocando-nos o hábito de vê-la
entre estrelas do espaço e da loucura;
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pelos pequenos astros e satélites
formando nos cabelos um diadema
a iluminar o seu formoso manto,
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vós que julgais extinta Mira-Celi
observai neste mapa o vivo poema
que é a vida oculta dessa eterna infanta.

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Soneto da Saudade
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Quem não canta?Quem?Quem não canta e sente?
-Chama que já passou mas que assim mesmo é chama…
A saudade, eu a sinto infinda, confidente.
Que de longe me acena e fascina e chama…
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Mágoa de todo o mundo e que tem toda gente:
Uns sorrisos de mãe… uns sorrisos de dama…
…Um segredo de amor que se desfaz e mente…
Quem não teve? Quem? Quem não os teve e os ama?
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Olhos postos ao léu, altivagos, à toa,
Quantas vezes tu mesmo, a cismar, de repente
Te ficaste gozando uma saudade boa?
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Se vês que em teu passado uma saudade adeja,
-Faze que uma saudade a ti seja presente!
-Faze que tua morte uma saudade seja!
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