quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Poetas alagoanos quase esquecidos (14)

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          ÚLTIMA FOLHA
         
          Clovis de Holanda  Cavalcanti
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          Poeta, se queres ser um dia dos eleitos da arte,
          Para exprimir no verso o gênio que te anima,
          Dobra o valor, duplica o esforço, a alma biparte,
          Que o fruto do teu ser seja obra prima.

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          Agarra a pena, doma a ideia, prende a rima...
          Pensa, cria, trabalha, executa, e, destarte,
          Talha, corta, burila, esculpe, ajeita, lima
          A forma, a cor, o som, para imortalizar-te.
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Esquece o mundo, esquece a vida, esquece tudo...
E louco, desvairado, incompreendido, mudo,
Concentra nessa lida o teu vigor disperso.
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Porém, se apesar disso o teu trabalho é frio,
Sem expressão, sem cor, sem ânimo, vazio,
Quebra a pena, por Deus! Amaldiçoa o Verso!
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CONDOR

Clovis de Holanda  Cavalcanti
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Asas soltas no espaço, as alturas buscando,
O condor vai fazer uma subida brusca.
Grande no seu desprezo ao mundo miserando.
Os páramos do azul garbosamente busca.
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Voa, corta no céu, de um rasgo formidando,
A infinita amplidão que seu furor rebusca.
Vai subindo, subindo... e nem vacila quando
O sol a reluzir o seu olhar ofusca.
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Voa, sobe e se perde altivamente no alto,
Olímpico, viril, sem nenhum sobressalto,
No supremo desdém de quem morre sorrindo!

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Condor de sonho, audaz, quero galgar a glória...
Subir sempre, ascender, em busca da vitória...
Voar, subir mais, morrer assim subindo!
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Clovis de Holanda Cavalcanti –  Nasceu no Engenho Boa Ventura, em Viçosa – AL em 19/9/1892 e faleceu em Recife – PE em  03/07/1914). Filho de Augusto de Holanda Cavalcanti e Francisca Casado de Holanda Cavalcanti.

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