quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Dois sonetos do poeta Francisco Valois

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Soneto a Rosa da Manhã Nascente
 .
Da fuligem do tempo entardecido,
emerge a rosa da manhã nascente:
— plenilúnio de agosto acontecido
vogante pelo espaço opalescente.
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No canteiro do olhar anoitecido,
— fonte de orvalho puro e permanente —
opaliza-se a rosa e, renascido
o tempo, um novo mundo se pressente:

(dissimulado, o sol poreja sangue
e, no pálio do céu, a lua exangue
vela a noite da infância adolescida)
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 — é que a rosa de cor avermelhada
transfigurou-se em flor purificada
nascente na manhã azulecida.
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Soneto da Ausência
 .
Busquei em ti a fonte de meu sonho
mas eras flor feita da noite escura,
brotada de um efêmero sorriso
que se foi no volver da madrugada.
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À sombra do que fomos, curvo a fronte
e reluzes em negro pensamento.
Egressa das ausências tua imagem e
reflui os meus silêncios homicidas.
.
Revivo meus fantasmas invioláveis
recriando despedidas e diálogos
nos canteiros estéreis da memória.
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Fitando o que não és, nestes instantes,
Somos seres perdidos no abandono
no encontro de um momento nunca eterno.

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