segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Poema de Carlos Pena Filho

Carlos Pena Filho com a filha Clara
.
Para fazer um soneto
.
Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere pelo instante ocasional.
Nesse curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.
.
Aí, adote uma atitude avara:
se você preferir a cor local,
não use mais que o sol de sua cara
e um pedaço de fundo de quintal.
.
Se não, procure a cinza e essa vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse,
antes, deixe levá-lo a correnteza.
.
Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza,
ponha tudo de lado e então comece.
.
.
Carlos Pena Filho, poeta e jornalista pernambucano, faleceu vítima de um acidente de trânsito, em Recife (PE), em junho de 1960, aos 31 anos de idade, quando era aclamado como um dos artífices da nova poesia brasileira. O soneto acima integra o livro “Melhores Poemas - Carlos Pena Filho” (Global Editora, Recife - PE).

Nenhum comentário: