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Fique o amor onde está; seu movimento
nas equações marítimas se inspire
para que, feito o mar, não se retire
de verdes áreas de seu vão lamento.
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Seja o amor como a vaga ao vago intento
de ser colhida em mãos; nela se mire
e, fiel ao seu fulcro, não admire
as enganosas rotações do vento.
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Como o centro de tudo, não se afaste
da razão de si mesmo, e se contente
em luzir para o lume que o ensolara.
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Seja o amor como o tempo – não se gaste
e, se gasto, renasça, noite clara
que acolhe a treva, e é clara novamente.
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Acontecimento do Soneto
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A doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros.
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versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.
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Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,
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irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
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LÊDO IVO nasceu em Maceió (1924), advogado, jornalista, contista, romancista e poeta. Desde 1987 ocupa a Cadeira nº 10 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Rui Barbosa. Vive no Rio de Janeiro desde 1943. De sua vistíssima obra destaco: Ninho de Cobras, A Noite Misteriosa, As Alianças, A Ética da Aventura ou Confissões de um Poeta.
5 comentários:
Lêdo Ivo, maravilhosamente belo, ele e a sua poesia.
abraços
Sempre se utilizando de belas palavras!!
Grande poeta!
Prof. Maurício Fernandes
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
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