sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Dois sonetos de João Pinheiro de Andrade Lyra



Elegia da Condenação

Morto é meu ser, e morto de tão triste,
não passa de infeliz, choroso traste,
porque da minha vida tu partiste
desta vida que outrora me alegraste!

Embora vivo estando, já morri,
pois eu não sei que morte mais exista
do que o suplício de viver sem ti!
Meus olhos inda veem, mas a vista

nada mais acha, nada que me agrade,
depois que para longe a claridade
se foi por ti levada; meus ouvidos

não deixaram de ouvir, mas não te esquecem
a voz amada e doce; e assim padecem,
condenados comigo, os meus sentidos!

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Elegia da Luz no Mar Profundo

Quando, às vezes, me solto do inimigo,
livrando-me de todo o humano orgulho,
dentro de mim, na solidão, mergulho
nas trevas que carrego aqui comigo;

e desço, e me aprofundo, e então me invade
um desejo que abrasa, transluze-me,
atingindo depressa a terra firme,
qual, no escuro, seria a claridade.

Mais longa a negativa vertical
se faz, precipitando-me... e, afinal,
um débil lume reconfortador

eu vejo, e logo cresce e se avoluma,
- maior que ele não sei de luz alguma
a lembrança estelar do teu amor!

João Pinheiro de Andrade Lyra (03/11/1912 - 05/10/1955) filho de Carlos Lyra Filho e Líbia de Andrade Lyra,  nasceu em Timbaúba (PE). Estudou na Suíça e nos Estados Unidos. O pai era dono do jornal Diário de Pernambuco, onde ele publicou vários vários sonetos e haicais. Fixou residência em São José da Lage (AL), onde casou e constituiu família. Publicou, em 1951, o livro "Essências do Brasil em Jarros do Japão", editado e ilustrado por ele, contendo uma coleção de seus haicais, que foi reeditado em 2012, quando do centenário do seu nascimento, por iniciativa de seus filhos.
            

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