segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poesia de Lêdo Ivo

Lêdo Ivo
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Soneto Puro
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Fique o amor onde está; seu movimento
nas equações marítimas se inspire
para que, feito o mar, não se retire
de verdes áreas de seu vão lamento.

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Seja o amor como a vaga ao vago intento
de ser colhida em mãos; nela se mire
e, fiel ao seu fulcro, não admire
as enganosas rotações do vento.
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Como o centro de tudo, não se afaste
da razão de si mesmo, e se contente
em luzir para o lume que o ensolara.
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Seja o amor como o tempo – não se gaste
e, se gasto, renasça, noite clara
que acolhe a treva, e é clara novamente.
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Acontecimento do Soneto
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A doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros.
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versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

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Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,
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irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
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LÊDO IVO nasceu em Maceió (1924), advogado, jornalista, contista, romancista e poeta. Desde 1987 ocupa a Cadeira nº 10 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Rui Barbosa. Vive no Rio de Janeiro desde 1943. De sua vistíssima obra destaco: Ninho de Cobras, A Noite Misteriosa, As Alianças, A Ética da Aventura ou Confissões de um Poeta.

5 comentários:

Anônimo disse...

Lêdo Ivo, maravilhosamente belo, ele e a sua poesia.

abraços

Enna Said disse...

Sempre se utilizando de belas palavras!!

Professor Maurício Fernandes da Cunha disse...

Grande poeta!

Prof. Maurício Fernandes

www.veredasdalingua.blogspot.com.br

Professor Maurício Fernandes da Cunha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Professor Maurício Fernandes da Cunha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.